segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Monarquias e Democratas Nordestinos


Foi na década de 90, bem no começo, que conheci Orlando Lamônica Jr. Um carinha supimpa do interior, acelerado e cheio de idéias, já criava gado Simental quando entrou no Quarto de Milha e no Paint Horse (depois de ver a capa número 1 de Horse Business). La Mônica, que já era presidente do Sinduscon, queria ser presidente da ABQM e junto com o sócio Edson Inácio resolveram montar uma chapa. Acontece que a chapa não pegava e foi então que La Mônica me chamou em Baurú. Pediu minha colaboração, e que fosse eu interceder por ele junto a Carlos Raul Consoni. Do alto dos meus 2o e poucos anos, marquei a reunião com o velho conhecido e fui perguntar-lhe sobre o menos jovem La Mônica... se ele sabia de sua candidatura e o que achava. Consoni foi curto e simpático, dizendo que o próximo presidente da ABQM seria o senhor Ovídio Vieira... e me convidou a conversar sobre outro tema. Voltei para o escritório e liguei então para o La Mônica para informá-lo da inviabilidade do apoio pleiteado. Foi então que me veio de supetão a idéia de sugerir-lhe o Paint Horse. Meu querido amigo Fábio André Ribeiro, o Fabinho, havia importado cavalos e éguas, e junto com um pequeno grupo fundado a associação brasileira do Paint Horse, com a velocidade de quem conhece Brasília desde menina. Sediada na capital nacional a Paint Horse estava meio ao Deus dará. E neste caso, me bastou um telefonema para a conexão Brasília x Baurú. Em uma semana estava resolvido, La Mônica era presidente!

Depois disso, a maioria dos criadores atuais de Painthorse e Quarto de Milha conhece a história. Nem La Mônica nem o Ovídio saíram das respectivas cadeiras! A eleição de Ovídio se deu num panorama bem conservador. Tratava-se de um criador esforçado, que estava em todas as modalidades, da corrida à conformação e tinha um cavalo chamado Mr. Hulk. Ovídio gostava mesmo de Quarto de Milha e possuia um invejável network. E melhor do que isto, depois do incidente Douglas Ferro, ninguém queria um perfil arrojado no comando da ABQM, e muito menos pensar numa figura cheia de idéias como o La Mônica.

O fato é quase 14 anos depois (posso ser impreciso aqui... já faz muito tempo), os dois permanecem em seus respectivos cargos. Mais divertido é ouvir as desculpas que as pessoas dão quando um desavisado pergunta: Mas ninguém quis ser presidente da ABQM? Bem, quanto ao Paint Horse, sinceramente não sei porque nem como La Mônica se perpetuou no poder. Mas na ABQM é mais pitoresco. O que manteria no cargo um presidente com as carcterísticas do Ovídio. Existem aqueles que acreditam que por ser ele um comprador recordista de leilões acaba fazendo lobby a seu favor. Existem os que acreditam mesmo que ninguém quer pegar o abacaxi e que o Ovídio tem tempo e dinheiro para isso. Importante é lembrar que até hoje, a administração firme e espartana do homem parece ter criado um caixa que é referência na história das associações de criadores de cavalos. E que além disso a ABQM não gasta um centavo com verbas para o seu presidente - pois ele paga suas viagens com seu próprio dinheiro - e neste quesito Ovídio é imbatível e se faz presente sempre que for importante. Prestigia eventos em todo o país.

Foi então que chegou a minha vez de falar com Ovídio, e desta, eu me convidei. Ano passado resolvi apresentar a ABQM um plano de marketing, com a intenção de organizar e captar recursos de uma forma mais eficiente para os campeonatos da raça. Ovídio não gostou do meu plano e eu não fui suficientemente convincente para tanto. Mas estive com ele. E conversei com o homem. Confesso que este era um homem bem diferente daquele que ganhou as eleições, da mesma forma que a ABQM também não é mais a mesma. Como sempre o via entre amigos, nas corridas em Sorocaba ou em leilões, eu fazia uma idéia errada do que ele representava. Conversamos algumas horas, e o homem demonstrou um conhecimento tão profundo das questões que envolvem a raça que eu me assustei. Cheguei mesmo a admirá-lo. De longe eu não conseguia imaginar o que um sujeito como ele, que nunca sequer pisou nos EUA - pois não vôa de avião - que não tem filhos montando a cavalo e que é alvo constante de ataques até dos que eu acreditava serem seus amigos, fazia para se manter ali... inabalável... na presidência. Então fui recapitulando e me lembro de quando a ABQM teve que mudar o estatuto para que Ovídio pudesse se re-eleger. Hoje pareceria uma manobra Chavista, mas não foi bem assim. Recapitulando menos, haviam tambem as diversas chapas que sequer sairam do papel. Toda eleição tinha alguém que queria, mas não tentava.
Extremamente veloz, e com os anos melhor, entendedor das relações que envolviam pessoas, associação, burocracia, Ovídio sabia o que queria para a raça e aniquilava seus adversários no ninho. E a ABQM cresceu. E como cresceu. Muitas vezes faziam parcer que cresceia mesmo contra a vontade do presidente. Mas vejamos que passo-a-passo este cavalo consolidou sua posição como o cavalo do estado de São Paulo e daqui para as outras regiões do país, tornou-se nacional. Tão nacional quanto o Nelore. Tão nordestino quanto a vaquejada. E ele vem cumprindo aqui em nossa terra sua vocação de cavalo global. Assim como o Blue Jeans e a Coca Cola. Ovídio, mais do que qualquer outro sempre soube disso. O próprio Paint Horse de La Mônica tornou-se um coletor de desafetos da administração de seu paralelo, que acabou por desaguar de volta na ABQM um número crescente de sócios.
Não dá para dizer que a admistração centralizada desagradou pouca gente, mas de qualquer forma a ABQM geraria filhotes diversos: ANCA, ANCR, APCT... e tantos outros. Difícil tem sido regular o oportunismo de tanta gente, não falo do oportunismo malvado, mas daquele oportunismo desavisado, impetuoso que rodeia o cavalo. A ABQM hoje é um mundo, cheia de cores e contrastes.
Nem se o Ovídio fosse americano e republicano teria alcançado o que alcançou. Entendam que com seus defeitos e qualidades a administração deste homem terá a marca do crescimento, mas o mais importante é que por trás dela está a marca da transição. A transição de uma associação das mãos de seus fundadores visionários, para uma entidade corporativa auto-regida. Ovídio não permanecerá na ABQM para sempre, e o maior desafio desta associação é arrumar a casa a estrutura e saber escolher seu próximo presidente. Um homem que deverá ser capaz de dar ao seu corpo adminsnitrativo e a seu calendário um caráter novo, imparcial e de vanguarda. Sendo um cavalo americano e considerando os últimos acontecientos... um negro talvez não... mas um nordestino é quase certo que seja.

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